No século XVIII surge o primeiro indício do efeito benéfico do exercício na doença cardiovascular, quando o médico inglês William Heberden relatou o caso de um paciente que sofria de angina e que diariamente se obrigava a serrar madeira, o que resultou em melhora do sintoma. Quase um século mais tarde, em 1854, William Stokes descreveu que os sintomas de falência cardíaca eram frequentemente revertidos com caminhadas regulares em intensidade moderada e progressiva. Com o decorrer dos anos, entretanto, o relato de Stokes foi esquecido, dando lugar a noção de que exercícios físicos para cardíacos era perigoso, principalmente por estar associado ao aumento do risco de complicações como ruptura cardíaca, insuficiência cardíaca e morte súbita. Um cirurgião inglês (John Hilton), por exemplo, advogava a restrição prolongada ao leito de até dois meses após um infarto do miocárdio. Apenas por volta da segunda metade do século XX, Levine e Lown introduziram o inovador tratamento de mobilização precoce pós-infarto, mostrando que essa conduta reduzia o número de complicações provenientes do repouso prolongado, marcando uma nova era no tratamento de pacientes cardíacos.
Da mobilização precoce ao treinamento físico foi um curto passo. E quando Chapman e Fraser da Universidade de Minessota mostraram, através de cateterismo cardíaco, que pacientes em recuperação de infarto do miocárdio tinham resposta cardiovascular normal durante o teste de esforço, foi aberto um novo caminho para a indicação do treinamento físico nessa população.
Durante os anos 60, alguns grupos de Reabilitação Cardíaca começaram a se formar, como Kellerman e colaboradores, que criaram em Washington o “Cardiac Garden”, onde pacientes pós-infarto e cirurgia vascular eram condicionados fisicamente por 16 semanas. A percepção de que os pacientes que sofriam infarto eram cronicamente inválidos começou a ser gradativamente desmentida. Este novo conceito concretizou-se quando um grupo de Toronto supervisionou o treinamento e a participação de sete coronariopatas na Maratona de Boston.
A prevenção secundária tem como objetivo reabilitar o paciente após o evento cardiovascular, ajudando a intervir favoravelmente nos fatores de risco para a doença aterosclerótica, recuperando seu status funcional e sua auto estima no intuito de evitar um evento subsequente. Ela é dividida em fases e já se inicia no período intra hospitalar. A seguir serão apresentados as três fases que compõem esse programa.
FASE I de Reabilitação Cardíaca: Inicia–se ainda na Unidade Coronariana, após a compensação clínica do paciente e consiste de atividades de baixo nível, limitadas a dois METS (equivalente metabólico), incluindo atividades como banho e sentar-se em cadeira. Geralmente é feito pela própria equipe de enfermagem e fisioterapia, tendo o objetivo de preparar também psicologicamente o paciente para as atividades habituais pós-alta hospitalar que na sua maioria requerem menos de 4 METS. É nessa fase que se inicia a educação e aconselhamento do paciente e familiares quanto aos fatores de risco e necessidades de mudanças de hábitos.
FASE II de Reabilitação Cardíaca: À partir dos anos 60 começaram a aparecer vários modelos para dar continuidade à FASE I como, por exemplo, o de Zohman que estabeleceu que o exercício deveria ser feito sob supervisão e monitorização médica, o que depois veio a se transformar na FASE II, que preferencialmente é realizada em ambiente hospitalar. Essa fase pode ser iniciada 24 horas após a alta hospitalar e, além de o paciente fazer a atividade física monitorizado, é dado ênfase ao ensino da auto monitorização do paciente (frequência cardíaca, percepção do nível de esforço, sintomas). Apenas quando o paciente demonstra capacidade de se auto monitorizar, demonstrando independência, estará apto a passar para a FASE III .
FASE III de Reabilitação Cardíaca: Atende indivíduos cardiopatas após dois meses em média do acometimento cardiovascular, tendo eles participado ou não da fase II. Nessa fase já não há a necessidade de monitorização intensiva, podendo ser realizada em ambiente extra hospitalar e objetiva-se, principalmente, evitar a evolução da patologia, bem como o aparecimento de um novo acometimento cardiovascular.
FASE IV de Reabilitação Cardíaca: Alguns autores ainda citam essa última fase como sendo a fase de manutenção, onde o paciente já está apto a praticar os exercícios se auto monitorizando, em ambiente externo, inclusive domiciliar. Uma boa alternativa para cardiopatas que se encontram nessa fase é a prescrição externa. Ou seja, uma programação de treinamento e orientações de treinamento físico, feitos pela equipe multidisciplinar, com avaliações semestrais para atualização da prescrição de treino.
Segundo a definição da American Heart Association, é fundamental que esses programas, independente da fase, sejam multidisciplinares (médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos), já que se está abordando uma doença ou enfermidade multifatorial como a doença coronária. Para se ter uma idéia da complexidade dessa população, depressão e seus sintoma, por exemplo, estão presentes em aproximadamente 20% dos pacientes pós infarto do miocárdio e a prevalência de obesidade é de aproximadamente 40%. Apesar de ser o “carro chefe” dos programas de reabilitação, a prática de exercício físico, por sí só, não pode ser considerada reabilitação cardíaca. A vinculação da terapia medicamentosa e do controle e redução dos outros fatores de risco que geralmente estão presentes é fundamental.
Prof. Dr. Newton Nunes
Fonte: areadetreino.com.br
Fonte: areadetreino.com.br
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